A elegância é amiga da simplicidade, modéstia e habita no detalhe, em arremates, caprichos e um olhar além do óbvio. Este tom, também inspirado em "Downton Abbey", foi a razão para nos encontrarmos.
É o centenário de um nascimento e a aniversariante, assim como sua mãe, era elegante na arte de não se fazer notar, na beleza sem adornos e certo pudor. Ambas, nobres em silêncio e discrição, sem julgamentos ou opinião. Artes e prendas brotavam em suas mãos. Usavam leques para, quem sabe, abanar angústias e soparar seus próprios ais. Poupavam o uso de joias, em favor da austeridade. Maria usava cabelo curso e bem penteado, tailleurs variados e sapatos fechados, sem uma joia sequer. Aparecida usava arcos no cabelo, aliança do casamento e meias da cor da pele, de preferência alemãs. Raramente um broche de coroa ou um colar de pérolas.
O casal Aparecida e Cristiano poupou palavras e agiu, porque amar não era dizer, mas fazer. Assim brotaram o colégio, o hospital, o asilo e o resgate de menores infratores, através do leite da fazenda que se transformava em café da manhã para os presidiários, porque não se fazia dinheiro aos domingos. Investiram em pessoas, vestindo seus corpos de autoestima e dignidade, sem valorizar as próprias atitudes, porque Quem diziam merecer era Deus, com um discurso reformista e calvinista.
Por esta inspiração e em homenagem a eles, nos encontramos e nos divertimos... e lembrem-se que, agora, cada um faz, ao seu modo, a vida brilhar!
É muito forte a lembrança de tudo o que vivemos naqueles tempos e, por isso mesmo, a saudade é inevitável... mas é uma saudade sem tristeza, serena, que gostamos de cultivar. Ela está sempre presente em nossas mentes, nos fazendo recordar que somos frutos de tudo aquilo que vivenciamos.
E nas melhores recordações de família, é sempre presente a memória das refeições, das delícias preparadas com tanto primor por Aparecida, da mesa posta e daquela imagem singular de todos ali reunidos em uma espécie de comunhão. Na mesa, demonstrava-se amor, cuidado, carinho e proteção... ali nos reuníamos para, muito além dos alimentos que nos saciavam, nos nutrirmos também da paz e do aconchego que reinava naquele ambiente quase que sagrado.
O nosso menu foi uma singela homenagem à história das pessoas que sempre se dedicaram para que aqueles sabores tão marcantes e especiais ainda hoje estejam tão presentes em nossas vidas.
Olha nos meus olhos e, por suas janelas, veja o meu coração. Você ter vindo a este cais é motivo para embaçar meus olhos em gratidão, sob a pálida luz da noite.
É sobre ter boas recordações e ver no seu sorriso a fresta da vida e o que atravessa por tudo que é bom, para que possamos nos banhar de lua e ouvir os beijos que o mar dá na areia da praia. É estar com você ao vento que sopra. É sobre você saber que aqui tem um cais para se atracar, quando você perde o seu próprio horizonte.
É ainda sobre gratidão por você aportar o seu sorriso, se fazer presença e contruir saudades.
Muito obrigado por estar aqui e lembre-se que já está marcada a próxima festa. Te espero, ao vivo e em cores, para comemorar o meu próprio centenário. Que venha o ano de 2060!